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Faleceu o mestre ferreiro Luiz Banzi
São João da Boa Vista|comunicados|26/10 19:18|2830 visualizações
Conhecido como um dos mais habilidosos ferreiros do Brasil, faleceu no dia 26 de outubro de 2016, em São João da Boa Vista, o mestre ferreiro Luis Banzi. Ele tinha 75 anos. O sepultamento aconteceu em Itu, cidade onde passou a maior parte de sua vida. 
 
Em sua homenagem, o Parabrisa reproduz aqui uma reportagem escrita há 3 anos por Mônica Fukuda, para a Revista Campo e Cidade
 
Na foto publicada recentemente na mesma revista, Luiz está à esquerda de Arvênio. Ambos considerados os melhores ferreiros do país. Um já conhecia a fama do outro, mas nunca haviam se encontrado, nem mesmo se falado. Antonio Carli, mais conhecido como Arvênio, mora em Indaiatuba/SP e tem 82 anos. Luiz Banzi morava em Itu/SP e tinha 75. Em comum, o trabalho que escolheram: mestres ferreiros. 
 
A arte do mestre ferreiro

Luiz Banzi até hoje inspira respeito entre os apaixonados por muares e cavalos
Moldar o ferro e transformá-lo em ferramentas, móveis e armas é uma arte tão antiga que os ferreiros são representados na mitologia grega por Hefesto, deus do fogo. Com a industrialização, a partir do século 19, essa profissão foi perdendo importância e está praticamente extinta. Em Itu/SP, Luiz Banzi viveu a época áurea da atividade. Por ser muito habilidoso, ganhou fama em todo o País e até hoje, aos 72 anos, é lembrado como um mestre ferreiro.
 
Banzi conta que começou como aprendiz de Alberto Polo quando tinha apenas 12 anos em 1950. Seu Alberto era famoso na época, pois veio com aprendizado da Itália, que é forte na ferraria. Com ele aprendeu a fazer todo o tipo de ferramentas e utensílios. Ainda tenho o primeiro torquês que fiz em 1957. Dos sete filhos de Antonio Banzi e Delmira Prévidi, apenas ele seguiu essa profissão. O trabalho era árduo e a oficina, naquela época, chamada de tenda, era aberta às 6h45 e o dia só terminava às 17h.
 
Trabalho era o que não faltava. As mulas e burros eram usados para puxar arado, charrete e carroças que faziam todo tipo de transporte de mercadorias. Inclusive a limpeza pública era feita com carroças de lixo puxadas por burro. A família Pavani era responsável por esse serviço no município. Banzi revela que, naquela época, a matéria-prima que ele usava na fabricação de ferraduras era ferro-velho. Joaquim Rodrigues de Matos, conhecido como Matinho, comprava os cravos que eram substituídos de dormentes dos trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana e os trocava com Banzi por ferraduras e serviços.
 
Banzi montou sua própria oficina em 1960, na Rua Sorocaba, e o local ficou conhecido como curva de rio por ser um ponto de encontro. Eu era muito popular, vivia sempre cheio de amigos, recorda. Nesse rol de pessoas estimadas estava Mário Giacomini (Malico), um ferreiro de mão cheia da vizinha cidade de Cabreúva/SP. Depois de 14 anos, Banzi transferiu a oficina para a Avenida Caetano Ruggieri e ali ficou nove anos. Também trabalhou no Centro Hípico Terras de São José durante 25 anos. Ele conta que, na década de 1970, as carroças começaram a ser substituídas pelas peruas e caminhões, o que reduziu bruscamente o movimento das ferrarias. Apenas na década seguinte, quando a montaria em cavalos virou hobby, é que os negócios do ramo melhoraram.
 
 
Técnicas e manejo


A diferença entre ferradura de um muar e de um equino está no formato. A pata do cavalo é arredondada, enquanto que de um muar é menor e ovalada. Para ferrar um animal é preciso fazer a limpeza da sola do casco e emparelhá-lo (nivelar). As ferraduras são moldadas em vários tamanhos com o ferro ainda incandescente. Depois são ajustadas a frio em cada animal. Nos animais mais novos é preciso casquear, corrigir o prumo. Essa técnica foi minha arte. Eu era um especialista, explica. Para aprimorar fez cursos no Jockey Club de São Paulo, na capital paulista, e no Hospital de Cavalos de Jundiaí/SP. Além disso, estudou em livros especializados.
 
Quando iniciou no ofício, em Itu só havia o médico veterinário do 4º RAM - Regimento de Artilharia Montada, unidade militar que funcionava no quartel local (atual 2º Grupo de Artilharia de Campanha Leve - Regimento Deodoro). Nessa época eram os ferreiros que faziam alguns procedimentos de saúde animal, como por exemplo, tratar de laminite (aguamento) e cólicas, fazer vermifugação ou cortar a travagem (carne que cresce sobre os dentes). Com o passar do tempo, vieram novos veterinários e Banzi se gaba que todos o recomendam para forjar as ferraduras ortopédicas desenvolvidas por ele.
 
Banzi cuidou ainda de animais de artistas como o do ator Tarcísio Meira e do cineasta Anselmo Duarte. Foi graças a essa proximidade que foi chamado para ferrar os 42 cavalos do filme Quelé do Pajeú, rodado em 1969, com direção do cineasta saltense, ganhador da Palma de Ouro em Cannes, na França, falecido em 2009. Após anos de trabalho pesado, Banzi se aposentou. Mas deixou um sucessor: seu filho Robson, que aprendeu o ofício e, hoje, trabalha em São João da Boa Vista/SP fazendo casqueamento de gado bovino.
 

por Mônica Fukuda
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Luiz
Sjbv
27/10 15:03

Na minha opiniao o melhor ferreiro foi o daniel(jacaré da pratinha) de sao joao

sem meia e sem cueca
sj
27/10 16:36

bem lembrado, além de ser uma pessoa fantástica.

sem meia e sem cueca
sj
27/10 16:52

me lembrei de uma passagem quando criança, eu sempre ficava na oficina dele, e um certo dia o empregado dele me pediu para eu pegar uma ferradura que estava no chão, quase que eu me estrepo, pois a ferradura estava quente.

Robinson Banzi
28/10 08:41

Família Banzi agradece ao parabrisa pela homenagem ao grande homem!

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