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Do Cafofo do Dezena - Crônica Viva - Histórias de Família
São João da Boa Vista|cultura|21/06 10:17|89 visualizações
Pensar sobre o esquecimento me traz angústia. Não o esquecimento corriqueiro, do dia a dia, mas o eterno como se passássemos uma borracha sobre os fatos, como se nunca tivessem existido. A ideia me aflige. Por isso, pensei em escrever um livro de reminiscências, para registrar o tempo em que éramos crianças: os onze irmãos, em Águas da Prata.


Como tantos outros projetos, esse também se arrasta a passos curtos, enquanto a idade caminha a passos largos, ceifando os filmes. Imaginei uma boa saída: pequenos resumos de passagens que serviriam como gatilhos, ajudando a desenvolver o texto depois. Como um aceno àquela região do cérebro onde, quem sabe, ainda repousam os acontecimentos. E, se estão guardados, talvez não haja esquecimento eterno, só encontrar o truque certo para reavivá-los.
 
Já contei a vocês que tenho dedicado parte do meu ócio à pintura? Não me julguem os que fizeram ou fazem da arte um ofício, como Di Cavalcanti. Pois bem: resolvi pintar todas as casas onde moramos na infância. Foram quatro antes de aportarmos, de vez, na Fausto de Barros Camargo, 54, em Águas da Prata. Comecei pela penúltima aquela no alto do morro da Igreja Matriz de Nossa Senhora de Lourdes, onde minha mãe se casou e onde fui batizado.
 
O esboço, feito a lápis numa folha A4, compartilhado no grupo dos irmãos, deu início a uma discussão. Casarão antigo, começo dos anos de 1960. Um dos irmãos jurava que, ao lado esquerdo da porta principal, havia apenas uma janela, e não duas, como eu desenhara. Ninguém se lembrava. Nem os mais novos, nem os mais velhos. Mesmo com a figura exposta, nenhum gatilho foi suficiente para resgatar a forma exata daquele prédio.


Esse episódio, o do desenho e da pintura aconteceu no domingo passado e me fez concluir que talvez não valham de nada minhas anotações para escrever as histórias da família. A memória irá me trair. Melhor escrevê-las já, aos poucos, mas com persistência, enquanto ainda me restam lembranças. Assim, quando estiver bem velhinho, com o livro já roto entre as mãos, possa perguntar à enfermeira de plantão:


Que história a dessa família! Quem escreveu?
 
Fernando Dezena

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