Do Cafofo do Dezena - Crônica Viva - Devaneios


Santo remédio para a monotonia.
 
Você é de São Paulo?
 
Sim, responderia ela.
 
Notaria seus dentes alvos e o sibilar da língua por uma estranha formação de nascença que a fazia soltar um pequeno assobio em todos os s . Sua altura, um pouco acima da minha, ganhava cinco centímetros pelo salto filetado e o topete loiro.
 
Poderia me ajudar com a indicação de um bom restaurante?
 
Talvez me questionasse: carne, peixe ou massa? Ou apenas sorrisse ao se virar para ir embora, não me dando atenção. Talvez me varasse com o seu olhar azul, perscrutando se na minha pergunta existia um subtexto, como nos ensinam os bons contistas, que o sentido quase sempre mora nele. Talvez.
 
Um observador distante, lobby do hotel, ao nos ver sair de braços dados, prenotaria mentalmente sermos velhos amantes. E no alongar-se das horas, madrugada ainda, saberia que seu nome é Diva, e ela me confessaria que, naquela noite, gostaria de esquecer-se de tudo. Eu e ela naquele bar. A música suave, penumbra, a mesa de canto e o entrelaçar de nossos dedos.
 
O lanche chegou!
 
Pensei ser o garçom, jamais pediria um lanche em um momento desses. Não era o garçom. A Letícia gritava da cozinha, com o saco do McDonald s na mão.
 
A realidade me sugou como os redemoinhos as folhas secas.
 
Fernando Dezena
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