Do Cafofo do Dezena - Crônica Viva - Papéis


O de pai, por exemplo, saboreio desde 1992, quando Letícia nasceu na Santa Casa de Misericórdia Carolina Malheiros, em São João da Boa Vista. Dois anos depois, veio Lucas. De lá para cá, arrumei dois bons problemas para cuidar  e a melhor parte de mim, nasceu com eles.
Sabiam que já fui um grande pescador? Vou deixar o grande de lado. Nos roteiros das pescarias no rio Machado, em Minas Gerais, o maior feito foi retirar da água um bagre de quase um quilo. É muito para esse peixe de um pequeno rio no interior das Gerais. As águas do Machado ajudavam a compor o conjunto das imensas represas do complexo das centrais elétricas de Furnas. Os peixes procuravam os rios para a piracema. Não existia consciência ecológica: era comum tirá-los da água com a barriga repleta de ovas. Os tempos mudaram, e eu esqueci as varas de pescar em algum canto.
O papel de marido? Nossa, esse é terrível. Há trinta e cinco anos procuro me acertar quem sabe, nos próximos trinta e cinco. E a vida profissional que me arrastou pelo IBGE, Banco Mercantil de São Paulo, nos tempos do extremista de direita Gastão Vidigal, e Bradesco. Após tantos anos sonho de quem tanto trabalha veio o INSS. Ficar parado? De jeito algum. Estou feliz no cooperativismo de crédito.
Tive a fase de atleta, mas não fui muito feliz. Carregado de força e coragem, não usei muito a cabeça. Sim, os punhos, nas brigas intermináveis pelos campos de futebol. Meu pai, delegado de polícia, me advertiu:
Se continuar com essas brigas, vai se complicar.
Parei com elas e encerrei uma bela carreira. Julgo hoje, vendo esse monte de pernas de pau pelos gramados. Se o cara se cuida fisicamente, é meio caminho andado e nisso eu era bom. Dedicado.
Paralelamente, a literatura tomou conta de boa parte desses anos. Permeou os outros papéis. Em vez de me postar como escritor, criei várias tramas para meus personagens, ou um pouco de mim em cada um deles.
Como a vida não dá sossego, resolvi, há pouco, embrenhar-me pelos caminhos das artes plásticas. Um quadro aqui, outro ali, vou tomando gosto pela brincadeira. Quem sabe, meu último papel.
 
Fernando Dezena
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