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Do Cafofo do Dezena - Crônica Viva - Mundo Pequeno
São João da Boa Vista|cultura|25/10 10:34|46 visualizações
O Cafofo anda pequeno. Desde que inventei que posso ser o Caravaggio da Mooca, vivo tropeçando em livros, telas e bibelôs. A bagunça já não cabe nas prateleiras, e as pinturas tomaram o chão da sala como território. Faltam paredes, falta ar, talvez falte espaço dentro de mim. Está difícil.


Tentei a prefeitura. Explico. Aos domingos ensolarados, de temperatura amena, gosto de ir ao café da Casa das Rosas. Ali, eu e a Luciane conseguimos passar horas conversando e observando as pessoas. Tem cada figura! Já vimos de tudo, até uma bicicleta ser roubada, na maior cara de pau. O menino chegou, ajeitou-se no selim e saiu com tranquilidade. Quando o dono chegou, aquele susto. Já era. O que isso tem a ver com minhas telas e a prefeitura? Na calçada, frente à casa, avenida fechada para carros, um senhor comercializa seus quadros. Pensei. Por que não colocar os meus ao lado dos dele?


Não tem nada a ver com concorrência. A Praça da República recebe vários artistas plásticos. Entrei no site do poder público para me cadastrar como vendedor ambulante. Além das telas, que precisam ganhar o mundo, estão na mesma categoria os meus livros.


Coloquei os dois no cadastro. Posso, simplesmente, todos os domingos pela manhã, arriscar descarregar minha produção tinto-literária na avenida mais famosa da cidade. Quem sabe, talvez, alugar o espaço para lançamentos de livros de escritores que sonham com a glória, mas precisam, antes, ralar no asfalto.


Enquanto espero a resposta da prefeitura, lembrei de outra bagunça, aquela que carrego nas memórias. Em viagem à Itália, comprei um caderno caríssimo acompanhado do lápis, para anotar as minhas aventuras e desventuras.


Todas as noites, tendo o vinho como companheiro, depois do banho e antes do descanso, anotava. Precisei dele para arrumar assunto para a crônica, e não acho. Em compensação, imagem de Nossa Senhora, tenho duas iguaizinhas. Sábado passado, fui à Aparecida e trouxe uma.


Ficará muito boa no meu CAFOFO, pensei. Chegando, lá estava sua sósia que trouxera em outra oportunidade. Talvez seja isso: toda arte nasce da bagunça, do ateliê, da alma, da fé. Enquanto me falta espaço no Cafofo, sobra devoção. E tinta. E sonhos.
 
Fernando Dezena

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