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Do Cafofo do Dezena - Crônica Viva - Caramelo
São João da Boa Vista|cultura|18/05 08:55|86 visualizações
Salvaram o Caramelo. De cima do telhado, contemplava a imensidão das águas. O presidente Lula ficou preocupado com o que pensava o pobre animal naquela inusitada situação. Nenhuma relva para chamar de sua. Imponente, deu pouca atenção aos holofotes dos helicópteros. Não se sabe, ainda, quem é o seu dono. Mas, como na minha infância acontecia com o Bolero e a Ciganinha, animais desse porte sempre têm legítimos proprietários. Diferente de cachorros e gatos. Talvez, tragicamente, quem dele cuidava, as águas levaram em correnteza. Talvez, por quilômetros, o tenha carregado em seu dorso. Homem desesperado com o mar de água e barro que se formou. Quem sabe? O solitário Caramelo, resgatado, arrumou uma cocheira e lhe deram feno. Agora, perdeu seu palco, deixou de ser o inusitado. Pelas imagens que vi, não me parece afeito a corridas no Jockey Club e nem terá sucesso como reprodutor. Só estava em cima de um telhado, lugar dos gatos, lugar dos pombos e, tempos atrás, das antenas de televisão.


Agora, vieram com a notícia que pode ser a Caramelo.


- Fernando, é só fazer uma pesquisa de dez segundos que tu descobres.


Descobrir o Caramelo, encobrir nosso mundo injusto, a destruição do planeta. Como podemos ser dignos de respeito se aceitamos o Tietê em esgotos a nossa frente? O Tamanduateí, o Pinheiros, mentirosamente limpo, Saracura e tantos outros pela insignificância das águas? Nós destruímos os rios da nossa aldeia. E não paramos. Fui à uma festa em Arujá, semana passada, e uma estrada em construção roubou as margens de um córrego. E avançamos em nossa ganância, mesmo sabendo que a água é um bem finito.


Parte de mim fica, outra morre. E, neste mundo, no resgatar de esperanças, o cavalo foi parar em cima do telhado. Muitos animais morreram, inclusive humanos. O que nos diferencia dos bichos é a capacidade de pensar e destruir. E choramos por um dia. Quando foi para passar a boiada, quando defendemos agrotóxicos nocivos à saúde, alguns ganham dinheiro em um primeiro momento, muitos morrem em um segundo. Estamos destruindo o Serrado, estamos destruindo a Amazônia, o que restou da Mata Atlântica, dando fim ao planeta azul.


- E o Caramelo?


Teve seu dia de glória.
 
Fernando Dezena é escritor.

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