Dupla poda: a virada do vinho brasileiro

Trabalhando em Pinhal no início da década passada, ouvi pela primeira vez os termos dupla poda, poda invertida e poda de inverno. Confesso que, na época, não compreendi bem o significado da expressão, tampouco o que ela representaria anos depois para a produção de vinho no Sul de Minas e no Leste de São Paulo. 
No O Armazém da Vila, em Poços, na última semana, conheci pessoalmente Murillo de Albuquerque Regina. Conversei rapidamente com ele e pedi a foto que ilustra esta publicação.
Murillo, podemos dizer, é uma lenda na viticultura. Engenheiro agrônomo, pesquisador obstinado, ele ousou alterar o relógio da natureza. Observou o clima, estudou o solo, dialogou com a videira, e percebeu que, se conduzida com sabedoria, ela poderia amadurecer no inverno, quando a Mantiqueira oferece dias quentes, noites frias, céu limpo e uma serenidade propícia à concentração de aromas e sabores.
Foi assim que Murillo enganou a videira, expressão que ele mesmo usa com um meio sorriso. Inverteu o ciclo. Mudou o calendário. E, com isso, fez história no universo do vinho brasileiro.
Hoje, quando abrimos uma taça de Syrah de inverno, equilibrada, elegante, fresca e surpreendente, há um inequívoco retrogosto desse atrevimento inaugural: alguém, um dia, acreditou que era possível fazer diferente.
Saúde, Murillo. Obrigado pela faísca que hoje é luz em nossas taças. 
Lauro Augusto Bittencourt Borges é bancário e membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista - Instagram: @lauroborges
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Murillo, podemos dizer, é uma lenda na viticultura. Engenheiro agrônomo, pesquisador obstinado, ele ousou alterar o relógio da natureza. Observou o clima, estudou o solo, dialogou com a videira, e percebeu que, se conduzida com sabedoria, ela poderia amadurecer no inverno, quando a Mantiqueira oferece dias quentes, noites frias, céu limpo e uma serenidade propícia à concentração de aromas e sabores.
Foi assim que Murillo enganou a videira, expressão que ele mesmo usa com um meio sorriso. Inverteu o ciclo. Mudou o calendário. E, com isso, fez história no universo do vinho brasileiro.
Hoje, quando abrimos uma taça de Syrah de inverno, equilibrada, elegante, fresca e surpreendente, há um inequívoco retrogosto desse atrevimento inaugural: alguém, um dia, acreditou que era possível fazer diferente.
Saúde, Murillo. Obrigado pela faísca que hoje é luz em nossas taças. 
Lauro Augusto Bittencourt Borges é bancário e membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista - Instagram: @lauroborges
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